quinta-feira, 18 de agosto de 2016

O Tesouro do Holandês


Existe, na Barra do Cunhaú, rondando próximo aonde teria sido o Fortim da Barra, a alma penada de um comandante holandês que vaga à procura de salvação. Teria ele sido cruel na tomada do Fortim, sendo responsável pela degolação de muitos inocentes. Quando saía da Barra, para tomar o rumo do mar, seu barco naufragou. Ele, no desespero de perder tudo quanto tinha saqueado, resolveu juntar os objetos de maior valor e se jogar ao mar.

Ao nadar em direção à praia, o comandante holandês foi ficando cada vez mais fraco e os objetos caíam de suas mãos, um a um. O último lhe caiu da mão a poucos metros da areia e, pouco depois, seu corpo foi jogado para fora da água. Vivendo como um zumbi, estaria condenado a não entrar na água até devolver o que roubou. Depois disto, poderia voltar ao seu navio e descansar em paz. Desde então, ele oferece o tesouro para se redimir dos pecados. Porém, sua oferta só pode ser feita a mulheres, pois os homens não o vêem, nem o escutam.

Ao abordar as mulheres, ele mostra seu tesouro e pede que elas façam segredo do caso por três dias. As moças, descuidadas, sempre deixam escapar o que viram e o holandês continua sua penúria. Nas noites de céu limpo e água clara, uma trilha de objetos brilhantes é vista na “boca da barra”. É “o tesouro do holandês” ou “a corrente de ouro do pontal” que o mar guarda e o holandês vigia, sempre imóvel e de pé com os olhos fixos na água.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Unicórnio


Unicórnio, também conhecido como Licórnio ou Licorne, é uma criatura mitológica com o corpo de um cavalo, geralmente de pelagem branca, e que possui um grande chifre em espiral no topo de sua cabeça. Sua imagem está associada à pureza e à força. Segundo as narrativas e contos, os unicórnios são seres dóceis e gentis e seus chifres guardam extraordinários poderes mágicos.

Acredita-se que para caçar um unicórnio com êxito, seria necessário muito mais que apenas coragem e força. Por mais que fossem seres dóceis, também sabiam ser perigosos e intimidadores, impedindo que os caçadores conseguissem se aproximar com facilidade. Porém, se o unicórnio encontrasse uma donzela virgem, ele esqueceria sua ferocidade e deitaria sua cabeça em seu colo, adormecendo. Nessa invulnerabilidade, os caçadores conseguiriam capturá-lo.

Ahmad, viajante muçulmano cujo os escritos eram vistos por todos como confiáveis, alegou ter viajado por diversos lugares por onde se caçavam unicórnios. Ele, inclusive, afirmava ter visto potes feitos com chifres de unicórnio.

Em 1663, perto de uma caverna na Alemanha, foi encontrado o esqueleto de um animal que, especulava-se, seria um unicórnio. A caveira estava intacta com um único chifre no meio, preso com firmeza. Cerca de 100 anos depois, uma ossada semelhante foi encontrada perto da mesma caverna. Os dois esqueletos foram analisados por Gottfried Leibniz, sábio da época e grande cientista (ao nível de Sir Isaac Newton), que declarou que (a partir das evidências encontradas) passara a acreditar na existência de unicórnios.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Edward Mordrake


Edward Mordrake foi um herdeiro de um pariato da Inglaterra do século XIX. Você pode até pensar que a imagem acima é uma mera montagem computadorizada, mas não se engane. Edward nasceu com um raro caso de policefalia. Ele nasceu com uma face a mais, uma face em sua nuca. Apesar de comer nem falar, a face era capaz de rir e de chorar. O caso impressionou o mundo. Mas isso não é tudo.

Edward chegou a implorar a vários médicos cirurgiões que lhe operassem para tirar aquela face de seu corpo, porém nenhum deles concordava em fazer aquilo, pois seria uma cirurgia arriscada. Além de ser algo socialmente rejeitável, o real motivo pelo qual Edward queria retirar sua face é porque ele dizia que ela era demoníaca. Sim. Edward afirmava que a face sussurrava para ele coisas terríveis e inimagináveis que o assombravam. E, como não pôde se livrar delas, aos 23 anos de idade, cometeu suicídio.

Edward haveria pedido para que o rosto de sua nuca fosse retirado de seu corpo e destruída antes de ser enterrado, pois ele acreditava fielmente que aquela face era demoníaca e tinha medo de que ela o assombrasse pela eternidade da morte.

domingo, 14 de agosto de 2016

Os Caranguejos


É muito curioso o que se diz do caranguejo pela expressão de algumas locuções populares: "Perdeu a cabeça por causa de camaradas; não morre enforcado, porque não tem pescoço; e por morrer um caranguejo não se cobre o mangue de luto"; e o povo diz ainda que "o caranguejo só é gordo nos meses que não têm R: maio, junho, julho e agosto". Essas informações são dadas incompletas pelos pescadores, dizendo sempre ter ouvido, quando meninos, muitas estórias de caranguejos esquecidas depois. Alguns pescadores dos mangues contam lendas e superstições sobre os crustáceos.

Uma das lendas diz que os caranguejos são governados por uma espécie de rei, um caranguejo cujo casco mede uns vinte centímetros e tem patas enormes. Chamam-no de garrancho. É um crustáceo esverdeado, misterioso, dificilmente visto. Vive no fundo da lama, num buraco muito profundo, com a entrada escondida. Nenhum pescador de mangue o vê duas vezes na vida. O garrancho só deixa o buraco para sair uma vez por ano, à meia-noite da Sexta-Feira da Paixão. Anda até o primeiro cantar do galo. Volta, mete-se em casa e não há mais quem o enxergue.

Quem conseguir arrancar ao menos uma pata ao garrancho está com a vida garantida, porque nunca mais lhe faltará caranguejo, siri ou goiamum. Basta trazer a pata do garrancho no bolso e riscar com ela na lama do mangue.

Havia um pescador que dizia que era mentira quando se afirmava ter visto o garrancho ou conseguido uma patinha para dar sorte. Ele havia prendido um, enorme na gamboa da Garatuba Grande, amarrara-o com uma embira num galho de mangue e ao voltar encontrara o cipó intacto, com o mesmo nó e do garrancho nem rasto. Este é o crustáceo que tem a figura de uma moça encantada no casco, muito mais nítida e perfeita que seus vassalos. E tem também a cruz, bem clara. Por isso sai no dia em que a cruz se ergueu com o Salvador. Essa tradição do caranguejo com uma cruz, tem registo velho e área geográfica de crendice bem longe dos mangues do Rio Grande do Norte. São Francisco Xavier atirou ao mar, perto das Molucas, na Oceania, seu crucifixo para acalmar uma tempestade. Um caranguejo susteve o crucifixo no casco e entregou a relíquia ao santo, quando este desceu na primeira praia. Como lembrança ficou uma cicatriz cruciforme no casco.

No dia do Domingo de Ramos, na Semana Santa, há uma Procissão de Caranguejos. Dizem que os caranguejos faziam, igualmente, sua procissão de Ramos. À noite desse domingo, saíam de patas erguidas, sustendo raminhos de mangue.

Kappa


O Kappa é uma criatura do folclore japonês. É conhecido como o demônio das águas japonesas. Vive em rios, lagos e lagoas e tem a aparência de um anfíbio ou peixe, com a pele cheia de escamas, as costas de uma tartaruga e o rosto semelhante ao de um macaco. A característica mais marcante dessa criatura é uma depressão em forma de pires em sua cabeça, na qual ele põe água quando está em terra firme, para concentrar seus poderes sobrenaturais. Em sua forma adulta, ele tem o tamanho de uma criança de dez anos.

O Kappa é visto como uma criatura mal-intencionada e costuma se alimentar do corpo e do sangue de suas vítimas. Inclusive, acredita-se que ele adora a carne humana, especialmente o fígado. Então, ele sai da água para caçar suas presas. Porém, dizem também que o Kappa não é de todo o mal. Apesar de ser mal-intencionado, eles também são inteligentes e honrados. Dizem que foi um Kappa que ensinou o ser humano a tratar de fratura e ossos quebrados em troca de devolverem a ele seu braço amputado (pois, colocado de volta no lugar, um braço arrancado de um Kappa pode se regenerar em poucos dias e ficar novo em folha).

O Kappa também é retratado como uma criatura que prefere devorar crianças desobedientes. Principalmente, as que se aventuram às margens de rios, lagos e lagoas sem a permissão dos pais. E, quando o Kappa não está caçando suas presas, ele costuma se divertir de alguma forma, pois sua aparência infantil não é por acaso. Ele realmente gosta de se divertir.

Diz-se também que há como evitar o ataque de um Kappa. O alimento preferido de um Kappa é o pepino. Então, se um Kappa estiver prestes a te atacar, basta jogar um pepino para ele e ele se sentirá grato por aquilo. Há pessoas que, até os dias de hoje, jogam pepinos na água com nomes de pessoas grafados neles, pois dizem que quando o Kappa for comer o pepino, ele vai ver o nome da pessoa e vai se sentir na obrigação de nunca atacá-la. Além disso, também há a reverência. Se uma pessoa o cumprimentar várias vezes, curvando a cabeça para isso, o Kappa vai fazer a mesma coisa e vai acabar derramando a água que leva no topo de usa cabeça. Há quem diga que após isso, ele precisa correr de volta para água imediatamente. E há quem diga que, após derramar toda a água, ele morre.